sábado, 5 de março de 2011

A Rede Globo e o monopólio no futebol brasileiro

Artigo do jornalista Alexandre Haubrich, postado dia 03/03/11 no blog Jornalismo B

As transmissões televisivas de futebol, a princípio, são como quaisquer outras transmissões de eventos ao vivo. Se um comício é transmitido pela TV, por exemplo, pressupõe-se que ele aconteça de forma independente em relação às emissoras que querem transmiti-lo, e que a cobertura seja jornalística. Em muitos eventos esportivos também é assim. No Brasil, as partidas de futebol profissional não seguem a óbvia lógica.
No Campeonato Brasileiro de Futebol, por exemplo, o espaço para o jornalismo nas transmissões ao vivo é irrisório. Os repórteres de campo são praticamente a única exceção. O restante é espetáculo, e os próprios transmissores fazem parte relevante do show. Mesmo os horários das partidas são definidos pela emissora que detém os direitos exclusivos sobre os jogos. É por isso que, no meio da semana, o torcedor fiel precisa ir ao estádio às 21h50min, chegando em casa já na madrugada para trabalhar no dia seguinte, enquanto a dita emissora não mexe no sagrado horário de suas novelas. É por isso que, em pleno verão, atletas profissionais são obrigados a jogar sob temperaturas absurdas às 16h, para que a audiência televisiva não seja prejudicada e os milhões de reais da publicidade entrem fácil nos cofres da emissora.
O futebol profissional foi mundialmente – inclusive no Brasil – transformado em um grande espetáculo televisivo. O torcedor que vai ao estádio tem poucos direitos, pouco conforto, pouca segurança, é muito pouco respeitado, a começar pelos horários das partidas. Enquanto isso, a televisão ganha audiência com o futebol, e publicidade com a audiência.
Ao contrário de um evento comum, o futebol profissional passou a girar em torno da televisão, já que é dali que os clubes, mal administrados e pouco preocupados com seu torcedor, tiram a maior parte de sua receita – que, para tornar o clube competitivo, precisa ser cada vez mais alta.
Dentro desse contexto, já em meados de 2010 tivemos a polêmica eleição para o Clube dos 13, na qual acusações de compra de votos por parte de Kléber Leite, aliado da CBF e de seu presidente, Ricardo Teixeira, não foram repercutidos pela Rede Globo. Kléber era o adversário do atual presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, e defendia a manutenção do formato de disputa pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol. Koff, não. E Koff, contra os interesses da Rede Globo e da CBF, venceu.
No início de 2011, o Clube dos 13, seguindo recomendação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), colocou em disputa os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, enquanto a Rede Globo gostaria de manter os critérios anteriores: nenhum. A Globo gostaria de continuar com a exclusividade dos direitos, sem concorrência, já que a Record parece ter condições financeiras de oferecer mais aos clubes do que a Vênus platinada – as transmissões das Olimpíadas de 2012 e de 2016 já estão nas mãos da Record, lá as travessuras políticas da Globo não adiantaram. O que a Globo fez, então? De alguma forma desconhecida convenceu os clubes a se retirarem do Clube dos 13 (totalmente ou apenas na negociação dos direitos de imagem), e a negociarem diretamente com a emissora carioca.
Operando nos bastidores para evitar a justa concorrência, impondo seus horários esdrúxulos às partidas, monopolizando as imagens e transmissões, enfraquecendo as instituições responsáveis por gerir o futebol brasileiro, a Globo presta um enorme desserviço ao esporte, ao torcedor e ao telespectador, além de ignorar e enfraquecer valores democráticos básicos.
*Um post interessante sobre o assunto pode ser encontrado no Escrivinhador.

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