sábado, 19 de fevereiro de 2011

Um metrô para Porto Alegre

Por Alves Rodrigues
No mundo ideal existe lugar para todos. O mundo, porém, apesar de ser único, é, na verdade, múltiplo. Existem, dentro do único mundo que existe, vários outros mundos. Existe o mundo dos ricos e existe um outro, o dos pobres. Existe o mundo do crime, por onde vagam desde o mais desprestigiado marginal até algumas personalidades influentes. No mundo das drogas também encontramos representantes de todas as classes sociais, doutores, professores, políticos, desempregados, atletas, enfim, tem de tudo neste mundo. O mundo das artes é habitado pelos gênios loucos, gente que tem muito a dizer, mas geralmente não é compreendida. Existe também o mundo da fantasia, é lá que vivem os alienados e os ignorantes, felizes, alheios aos males e às mazelas que os cercam. Recentemente tomamos ciência da existência do mundo virtual, um novo mundo que nos encanta por suas possibilidades, embora ainda não tenhamos tido tempo de avaliar todas as consequências que sua existência pode ocasionar. Enfim, existem diversos mundos dentro do único mundo que existe: o real. Na verdade, e para nosso imenso infortúnio, o único mundo que não existe é o mundo ideal.
O mundo dos pobres é repleto de sonhos. Compreensível, afinal, para quem pouco ou nada tem, tudo não passa de um sonho, ou melhor, tudo passa a ser sonho. Sonhos modestos tipo uma casa pra viver, comida pra comer, esse tipo de coisa que, normalmente, os pobres não costumam ter. Uma rua limpa pra morar. Uma rua onde as crianças pudessem brincar e crescer longe dos perigos. Os perigos da violência, do tráfico e do trânsito. Longe do perigo dos carros. Os carros matam. A grande maioria dos pobres – dos realmente pobres – não tem carro. Então, os pobres não matam no trânsito, no trânsito, os pobres – os realmente pobres – apenas morrem.
Um sonho muito corriqueiro do mundo dos pobres (que têm emprego) é ver diminuído o sacrifício necessário para conseguir chegar ao seu local de trabalho, geralmente distante dos bairros periféricos onde se exilam os trabalhadores. Transporte coletivo digno, um sonho. Ir e vir é direito de todo cidadão brasileiro, direito assegurado na Constituição Federal. Ir e vir, porém, de ônibus, em qualquer região metropolitana desta pátria verde e amarela, já não pode mais ser chamado direito, mas penitência.
O mundo dos ricos, a mim parece, não deixa espaço para muitos sonhos. O que faltaria a quem já tem tudo ou quase tudo? Mais uma mansão com quadra de tênis e piscina? Mais um carro na garagem? O homem rico, creio eu, não é um ser ruim por nascimento. Porém, uma boa parte dos ricos e poderosos empresários, políticos, enfim, as pessoas que, por alguma razão, compõem a elite econômica deste país, por certo tem horror a pobres. Juro que tenho a impressão de que os ricos – quase todos eles - só gostam dos pobres em duas situações: quando estão trabalhando e gerando mais riqueza ainda para aqueles que já têm muito mais do que precisam e merecem, ou quando estão mortos e enterrados, pois então já não necessitam mais que governos socialmente menos injustos - o de Lula, por exemplo, não este que Dilma está começando a propor – invistam dinheiro em políticas públicas, dinheiro de impostos, impostos que os empresários vivem reclamando que pagam, mas que na verdade não o fazem, pois tudo é descontado no Imposto de Renda de seus balanços, vez ou outra maquiados. No mundo ideal dos ricos os pobres não existiriam, ou melhor, existiriam sim, mas só durante o dia, período em que trabalhariam horas a fio por salários indignos e insuficientes, à noite, convenientemente, eles desapareceriam debaixo da terra para, como mágica, ressuscitarem no dia seguinte e seguirem trabalhando por seus salários miseráveis.
O PAC da Copa encheu de água a boca de políticos e empreiteiros aqui em Porto Alegre. Num papo-furado como nunca antes na história deste país falou-se em um tal metrô que ligaria o Centro à Zona Norte, não sem antes passar pelo (hoje em ruínas) estádio da beira do rio. Ir do Centro à Zona Norte passando primeiro pela Pe. Cacique não é apenas burrice, é pura sacanagem mesmo. O metrô não entrou no PAC da Copa, menos mal. Porém, agora surgiu a mais 'nova novidade' do momento: o metrô de Porto Alegre está incluso no PAC da Mobilidade. Por mobilidade entenda-se a facilitação da vida dos carros, não necessariamente a das pessoas.
É claro que a implantação de um metrô na Capital gaúcha tende a ser um avanço no sistema de transporte público. Tende. Tudo ainda vai depender bastante de questões como traçado, tarifa, acessibilidade para os moradores das periferias, horário de funcionamento e algumas outras coisas que eu que, como tudo na vida, sou apenas passageiro, não tenho condições de avaliar.
No entanto, um metrô em Porto Alegre seria mesmo algo bem interessante. O encontro de dois mundos. O sonho daqueles que vivem no mundo dos pobres, de ter a possibilidade de contar com um transportes público rápido, limpo, eficiente e barato, parece bem possível quando se imagina um trem elétrico rodando em boa velocidade pelos subterrâneos da Capital. Claro que, na prática, a gente tinha que procurar conhecer a opinião de trabalhadores brasileiros de outras metrópoles que já contam com esse tipo de transporte. Por outro lado, o sonho que se sonha lá no mundo dos ricos estaria bem próximo de sua realização. Que coisa linda – para os bem aquinhoados - aquele bando de pobres emergindo da terra pela manhã, cumprindo sua jornada de trabalho (nem sempre respeitada pelo empregador), fazendo jus ao seu parco soldo (nem sempre pago correta e assiduamente), produzindo a riqueza que engordará as contas dos patrões, os bolsos dos banqueiros e os cofres do Estado, para depois, ao cair da noite, outra vez desaparecer pelos buracos cavados pela iniciativa privada e financiados pelo poder público, e só retornar no dia seguinte para gerar mais riqueza. Menos ônibus nas ruas, menos pobres na superfície da cidade, mais espaço para os carros de quem pode ter carro. Que maravilha.

Vem aí o metrô de Porto Alegre.
Será que vem?

*Alves Rodrigues mantém o blog Somos Todos Torcedores e o twitter @lvesrodrigues

2 comentários:

  1. Acho que de qualquer forma, não tem como ser ruim um metrô em Porto Alegre. Facilita a locomoção e desafoga as ruas.

    E como o metrô só deve sair daqui a 10 anos, mais ou menos, tenho a certeza (esperança) que tanto ricos quanto pobres terão maior consciência de como é importante e sustentável usar o transporte público - desde que, claro, ele funcione.

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  2. Como Presidente da Frente Parlamentar em defesa do Metrô aqui em POA, espero que de tudo certo. Vou ficar acompanhando os desdobramentos e torcendo pela assinatura da nossa Presidente Dilma.

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