Transitou nos periódicos desta terça-feira a notícia de um homem que foi morto após uma sessão do filme Cisne Negro. O crime ocorreu no sábado, na Letônia. O que motivou o assassino, segundo consta, teria sido o barulho que a vítima fazia enquanto comia pipoca. Um motivo banal, ridículo, que, assim, contado de maneira crua e sem maiores detalhes, facilmente viraria uma esquete de humor ou até piada.
Imagina o nível de tolerância de uma pessoas dessa. É quase zero. Imagina o nível de estresse. Aposto que é alto. Aliado à carga de intenso conflito psicológico do filme, deu no que deu. Mas não era pra dar! Não justifica matar outra pessoa, não justificaria nem uma discussão. Mas as pessoas gostam de discussão, gostam de se incomodar, se estressam mais que o natural.
É perfeitamente justificável, em tempos atuais, ser arrebatado por cargas diárias de estresse. Acontece que não sabemos nos desvencilhar dessas pequenas (médias ou grandes) cargas diárias, vamos juntando, juntando, juntando, até um nível insuportável para mente e corpo. É quando estouramos, e as consequências podem ser gravíssimas - para nós e para quem está por perto.
O pior é que muito dessa carga de estresse é opcional. A pessoa decide que vai se incomodar com determinada coisa e torna aquilo um martírio. Um exemplo que dá para ouvir diariamente é o Paulo Inchauspe, comunicador da rádio Pop Rock, que conta no ar suas histórias de idas ao cinema e sempre acaba se estressando com as atitudes dos outros que, na maioria das vezes, são coisas pequenas. Como o barulho da pipoca, por exemplo. É tão óbvio que no cinema vai-se ouvir barulho de pipoca quanto em cidades praianas se escuta o barulho do mar. Daí precisa mesmo se estressar com isso?
Talvez o exemplo mais forte e comum a uma grande parcela de estressados seja o trânsito. A caricatura mais perfeita do homem no trânsito foi feita há décadas atrás pela Disney, num desenho do pateta. O quadro continua atual. A pessoas se propõem a comprar um ou dois carros, se propõem a andarem sozinhas num veículo que poderia ter mais quatro pessoas, sabem que não poderão andar a 100 km/h dentro da cidade e que metrópoles como São Paulo se enfrenta engarrafamento de até 100 km.
Ou seja, saímos de casa com plena consciência do que vamos enfrentar. Optamos, na maioria dos casos, em enfrentar e, ainda assim, fazemos daquilo um martírio diário. Não é difícil não levar tudo às última consequências, é só tentar. Como cantou os Beatles: let it be. Dá para ignorar o botão "estresse" e apertar o "ok, é assim mesmo".
Tem gente que por uma fechada no trânsito, simplesmente abandona sua rota é vai atrás do outro até conseguir, ao menos, dizer uns desaforos. E aí, resolveu o que, meu amigo? Então passa o dia todo pensando na fechada, é o assunto com a esposa, de noite, quando chega em casa. Levamos adiante coisas ridículas como essa.
São essas cargas diárias que poderíamos simplesmente esquecer depois de 15 minutos, acumulamos durante semanas. A solução - funciona comigo - é simples. É só parar, pensar e se questionar o real valor daqui e o tamanho da nossa reação. É só pensar e racionalizar. Uma dica que talvez não seja a mais apropriada em dias que se gasta tanto tempo com bobagem, com trabalho e pouco se exercita a mente.
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