quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dizem por aí que "lugar de bandido é na cadeia". E de mendigo? É na rua?

Por Jônatha Bittencourt
Olhamos para a situação de centenas de moradores de rua e indagamos a respeito das possíveis causas para tal fenômeno. Afinal de contas, sabemos que as pessoas que necessitam de recursos financeiros e de amparo social deveriam ser consideradas dignas de apoio popular, o que de fato não é constatado.
Em pesquisas realizadas por um conjunto de pesquisadores de Porto Alegre, pôde-se concluir o estudo Cadastro de Crianças, Adolescentes e Adultos em Situação de Rua e Estudo do Mundo da População Adulta em Situação de Rua de Porto Alegre/RS, que apresenta dados recolhidos no ano de 2007, abordando desde a situação atual dos moradores de rua, até mesmo a sua formação antropológica – apontando dados étnicos, socioeconômicos e culturais, estratégias de trabalho e geração de renda, formas de sociabilidade, identidade e representações sociais, formas de relação com instituições e demandas para as políticas públicas.
Não são raras as afirmações, até mesmo preconceituosas, declaradas com impetuosidade a respeito das condições em que os moradores de rua se encontram. Mas focando principalmente os dados coletados pelas pesquisas citadas anteriormente, verificamos as reais causas para a permanente manutenção das pessoas nas ruas da cidade de Porto Alegre.
Ocupando o primeiro lugar dentre os motivos da saída de seus lares, como resposta de 41,1% dos entrevistados, estão as rupturas familiares - por maus tratos, desavenças, rejeições, falta de apoio, ameaças, abandono, por separação ou morte. 22,8% dos moradores de rua afirmam que a falta de recursos materiais e financeiros – relacionados, normalmente, à perda de emprego, à busca de trabalho e à perda de moradia – são as principais causas que os levaram à sarjeta.
Tendo em vista os dados apresentados, o mais surpreendente é que a dependência química e a debilidade mental não correspondem à principal justificativa. O consumo de bebida alcoólica e de drogas corresponde a apenas 12,1% das causas.
Podemos compreender claramente que os dados apontados nos indicam um “perfil” por parte dos moradores de rua. Os estigmas preconceituosos de que são apenas “bêbados e loucos” devem ser julgados diante de tais apontamentos. Humanos como nós (bêbados ou sóbrios, loucos ou não), os habitantes de rua da cidade de Porto Alegre necessitam do auxílio popular, da consideração e do apreço por parte dos seus semelhantes, para que dentro ou fora de uma casa possam viver com dignidade.

*Jônatha é estudante de jornalismo, estágiário da prefeitura de Porto Alegre, blogueiro e twitteiro

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