quarta-feira, 23 de julho de 2014

Renovação X Reestruturação

Após toda a Copa do Mundo em que o Brasil não vence surge o mesmo papo: renovação. Afinal, é preciso renovar, buscar novos jogadores e resgatar o espírito brasileiro de jogar futebol convocando atletas que tenham orgulho de defender seu país.

Um belíssimo papo furado. Este é um dos erros crassos da nossa maneira de fazer futebol. Buscar a renovação a cada quatro anos sacrifica boas gerações e dificulta a criação de uma equipe propriamente dita, que tenha sentido coletivo e mescle experiência e juventude. Portando, Dunga, Gilmar Rinaldi e CBF erram quando falam apenas em renovação. Erra também quem cobra isso deles. A Seleção não precisa de renovação, ela precisa de continuidade e ajustes.

A palavra correta é reestruturação. Mas aí em uma esfera muito maior, que não se detém apenas no que é gerir uma seleção de futebol de um país. A Confederação Brasileira de Futebol precisa oxigenar suas práticas. Buscar a profissionalização nos mais variados setores, como o da arbitragem, por exemplo. Precisa abrir os cofres e investir de forma razoável na organização de campeonatos menores que permitam a boa saúde dos clubes de pequeno porte, auxiliar na manutenção e estruturação da base e promover cursos preparatórios com real estofo e valor técnico. Ouvir o Bom Senso FC, aderir ao fair play financeiro e repensar o calendário do futebol nacional.

Aos clubes grandes, é preciso cobrar da mesma forma. Essas agremiações poderosas precisam também se reestruturar. Além de profissionalizar a maneira de gerir o clube, é de suma importância que saibam atuar juntos fora do gramado, o que implicaria na criação de uma liga independente, nos moldes do falecido Clube dos 13. Uma liga para negociar, sobretudo, uma divisão mais equilibrada das verbas de televisão e que busque se desgarrar dos braços da Rede Globo e das Federações, defendendo o interesse dos clubes não de forma individual, mas visando o bem comum das instituições.

Isso vai muito além de uma renovação na Seleção Brasileira.


Aliás, Dunga como treinador e Gilmar Rinaldi como coordenador pouco difere do que vimos na última comissão técnica que tinha Felipão de técnico e Parreira um cargo acima - ainda que não parecesse. Por que escolher Dunga?

Não que tivesse feito mal trabalho em termos de resultado de campo na sua passagem, de 2006 a 2010. Mas o fato é que o novo (velho) técnico não deixou legado nenhum durante sua passagem pela Seleção Brasileira. Convocou pensando irrestritamente naquele momento, ignorando que em 2014 jogaríamos uma Copa do Mundo em casa e precisaríamos de uma equipe mais experiente. A culpa não é toda dele, evidente que faltou planejamento de instâncias maiores. Algo que esperamos que Gilmar Rinaldi seja capaz de comandar durante sua gestão.

Renovação
Da Copa de 2010 para a de 2014, cinco jogadores seguiram na Seleção: Julio Cesar, Thiago Silva, Maicon, Daniel Alves e Ramires. É um número baixo, ainda mais se considerarmos que nomes como Marcelo, Hernanes, Neymar e Victor poderiam estar no grupo. Outros nomes, naquele momento, também poderiam ser lembrados e, quem sabe, teriam uma trajetória diferente na carreira. Alexandre Pato e Paulo Henrique Ganso, sobretudo.

Mesmo após a catástrofe do 7 a 1 para a Alemanha na semifinal e a derrota de 3 a 0 para a Holanda na decisão de terceiro lugar, não é a hora de começar uma equipe do zero. Dos 23 convocados de Luiz Felipe Scolari para disputar o mundial no Brasil, pelo menos 12 podem servir de base para o novo trabalho do técnico Dunga. Da defesa ao ataque, são eles: Victor, Daniel Alves, Marcelo, Thiago Silva, David Luiz, Luis Gustavo, Fernandinho, Paulinho, Oscar, Willian, Neymar e Bernard.

2 comentários:

  1. Dunga assumiu a Seleção após o “fracasso” de 2006. Boleiros mais interessados no marketing da imagem e de contratos comerciais do que focar no objeto fim: jogar futebol. Na mesma época a Globo- dona do Futebol brasileiro face ao monopólio concedido pela CBF- também ditava as regras por força de “seus comentaristas”. O que exigiram de Dunga ele deu à seleção. No campo teve “azar” de não ter um Adriano – à época em grande fase- e teve um Kaka descontado. Na fatídica partida contra a Holanda já havia perdido Elano e com absurda falha de JulioCesar viu o time desmoronar psicologicamente em campo. Felipão reabriu a Seleção para os factóides da Globo via “AnaMariaBraga & LucianoHuck”. Amistosos foram do tipo “Gabão”. Globo/CBF tem um “produto” prá vender. O excesso de motivação de estarmos com a mão na taça com a Copa Aqui novamente fez o time virar o fio. Na seleção de Dunga e de FElipão faltou, novamente, um “Dunga” dentro do time. Por outro lado qualquer que seja o treinador ou comissão técnica não há esperança de alteração do quadro. Uma seleção deveria ser o resultado do trabalho nos Clubes. De baixo para cima…O Futebol como um bem imaterial do povo brasileiro deveria ser mais protegido por um sistema normativo ao DesportoNacional…vem aí a Olimpíada do Rio. Sistema e Planejamento faz parte de uma sociedade sadia e democrática. O “pensamento mágico” TALVEZ SEJA NOSSA HERANÇA CULTURAL portuguesa que aguarda o Rei Sebastião. Se é assim: vamo lá Dunga, Tô contigo.

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    1. Nada é mais pensamento mágico que Felipão e Parreira juntos. Contudo, Dunga e Rinaldi segue essa mesma linha.

      Entretanto, há uma mudança de metodologia, mas aplicada apenas, ao que parece, na gestão da equipe de futebol. Concordo contigo, Vítor, quando diz que precisamos de uma mudança na base estrutural dos clubes.

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