segunda-feira, 28 de julho de 2014

Filme de Segunda 152

Sem Evidências

Posso até estar com uma percepção equivocada, mas não tem sido lançado no cinema recentemente muitos filmes de tribunal. É um subgênero que tem ido direto para DVD/Blue-ray, talvez porque não haja realmente grandes produções nesse sentido. Não foi à toa que Sem Evidências chamou minha atenção na lista dos que estavam em cartaz nesse último final de semana. A sinopse despertou aquela vontade de assistir a um bom entrave judicial, com investigação criminal, mistério e discursos afiados dos advogados de acusação e defesa. Sem esquecer de um agravante: baseado em fatos reais.


Em 1993, na cidade de West Memphis, estado de Arkansas, nos EUA, três crianças de oito anos são brutalmente assassinadas em um suposto ritual de magia negra, ou de ocultismo, ou de sacrifício ao demônio - como queiram. Os adolescentes Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley, à época menores de idade, são sentenciados como culpados. Echols, apontado como mentor, recebe pena de morte. Sem Evidências, dirigido por Atom Egoyan (O Doce Amanhã, 1997 e Verdade Nua, 2005), recria desde o dia em que as crianças somem, passa por todo o fálico processo de investigação até chegar a decisão final do juiz que julgou o caso conhecido como os "Três de West Memphis".

O crime mexeu com a opinião pública americana nas últimas duas décadas. Mesmo reunindo provas suficientes para, ao menos, reabrir o processo, os três acusados passaram 18 anos na cadeia. Foram soltos em 2011, após um acordo raro, em que assumiram a autoria dos assassinatos para que o Estado diminuísse a pena e entendesse que o tempo que passaram presos já era o adequado. Muito da pressão que levou à soltura dos três, inclusive livrando Echols do corredor da morte, deve-se a excelente trilogia documental Paradise Lost, de Joe Berlinger e Bruce Sinofsky, que tratou de investigar o caso e defender a inocência dos condenados.

Embora seja baseado em fatos reais, Sem Evidências é uma ficção. O drama, contudo, também defende a ideia que Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley foram injustamente acusados. O diretor, porém, é inteligente ao não tentar ser conclusivo. Ele remonta todo o contexto da pequena cidade, onde os cidadãos, em sua maioria cristãos fervorosos, não lidam bem com jovens que ouvem heavy metal, vestem preto e usam o cabelo comprido - justamente o perfil dos adolescentes presos.


Adaptação do livro "The Devil's Knot: The True Story of the West Memphis Three", o longa não se consagra como um grande filme de tribunal. Ele fica no meio do caminho em vários aspectos que de alguma forma são interessantes, e que passamos a entender devido aos dois roteiristas: Paul Harris Boardman e Scott Derrickson, habituados a trabalharem em filmes de terror e suspense. A dupla é responsável, entre outros, pelo excelente O Exorcismo de Emily Rose (2005). Em Sem Evidências as cenas do julgamento são pobres em termos de diálogos, os advogados são personagens menos fortes do que poderiam e deveriam ser. Em compensação, o filme ganha em suspense, o diretor Egoyan consegue explorar essa veia e deixar o clima sempre muito tenso e pesado. O momento em que os corpos das três crianças são encontrados ilustra muito bem.

Algo curioso, e talvez decisivo para que não seja de fato um grande filme, é a falta de um personagem marcante, um protagonista que estabeleça um elo mais forte entre espectador e obra. Colin Firth e Reese Witherspoon, que estampam o cartaz, são alçados a esse posto muito mais por mero cerimonial do que pela função propriamente dita. Os dois, contudo, apesar de discretos, atuam com muito correção. Essa é, visivelmente, uma opção da equipe de filmagem, e dentro disse o elenco se encaixa e executa perfeitamente. Witherspoon, completamente desglamurizada, é a mãe de uma das crianças assassinadas, enquanto Firth é um investigador particular que resolve prestar serviço aos acusados por entender que tudo se tratava de uma grande injustiça.

É um bom filme, sem dúvida, mas que deixa a desejar em alguns aspectos. Sobretudo, a história é interessantíssima, tem aquele período contado de forma satisfatória e acaba valendo ingresso.

Gênero: Drama
Duração: 114 min.
Origem:EUA
Direção: Atom Egoyan
Roteiro: Paul Harris Boardman, Scott Derrickson
Distribuidora: Paris Filmes
Censura: 12 anos
Ano: 2014
Classificação PoA Geral 
- Obra
- Baita Filme
X Bom Filme
- Bem Bacana
- Meia-boca
- Ruim
- Péssimo

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