quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Prática jornalistica: cara de pau.

Reproduzo a seguir texto de Alexandre Haubrich, publicado no blog Jornalismo B, dia 13 de setembro.


Grupo RBS se diz sob censura, mas protege funcionário censor

Acompanhem o raciocínio. Comecemos pela notícia:
Sexta-feira, 2 de setembro de 2011. Chamada na capa da Zero Hora anuncia: “CENSURA – Justiça proíbe menção a nome de vereador – Veículos da RBS não podem citar envolvido na Farra das Diárias”. Na página 12, a matéria explica: “A decisão atinge todas as mídias (do Grupo RBS) e pode resultar em multa diária de R$ 1 mil. (…) Em agosto do ano passado, o Grupo RBS e o Fantástico, da Rede Globo, apresentaram a série de reportagens de Giovani Grizotti. O material revelou como vereadores utilizavam diárias para viagens turísticas”.
No dia seguinte, nova chamada na capa: “Entidades repudiam censura à RBS”. Na matéria, cerca de meia página, uma série de entidades realmente “repudiando censura à RBS”. Em 7 de setembro, quarta-feira, não há chamada de capa, mas está lá uma nova matéria, novamente meia página: “Veto à imprensa – Justiça de Torres mantém censura a veículos da RBS – Mais duas entidades divulgaram nota lamentando decisão do tribunal”.
Finalmente na sexta-feira, 9, mais uma chamada na capa: “Censura à RBS chama atenção até no Exterior”. A matéria, nas páginas 4 e 5 (as “nobres” de Zero Hora) busca mostrar como o caso é absurdo, “insólito”. O título da matéria, em letras garrafais, é “O peso da censura”. O repórter é Humberto Trezzi. O argumento para classificar o caso como “insólito”: “A RBS adotou as medidas cabíveis em nome de um valor constitucional – a liberdade de expressão. Mesmo que o parlamentar não fosse rei, isso não invalida o direito à mídia de nominá-lo. A Constituição, em seus artigos 5º e 220, veda a censura prévia e confirma que é livre a manifestação do pensamento”.
Corta.
Sábado, 14 de março de 2009. Post do Jornalismo B: “o jornalista Wladymir Ungaretti, dono do blog Ponto de Vista, está sendo processado pelo repórter fotográfico da Zero Hora Ronaldo Bernardi. Os motivos do processo são os posts daquele blog que chamam Bernardi, sempre usando o apelido ‘Fotonaldo’, de cascateiro” (…) O processo claramente tem o único intuito de fazer calar. É, portanto, autoritário, centralizador de opinião, ditatorial”.
Os termos do processo são semelhantes ao do caso RBS x vereador de Torres. Algumas diferenças, porém, são marcantes: além de não poder citar o nome de Ronaldo Bernardi em seu blog (igualmente sujeito à multa), Ungaretti também teve que retirar do ar as menções ao funcionário da RBS. Além disso, é claro que uma empresa do tamanho do Grupo RBS não tem qualquer dificuldade em arcar com os custos do processo ou mesmo com possíveis multas. Ungaretti, como todo blogueiro processado – e são muitos, boa parte deles acossados por outras empresas de mídia –, vê seu trabalho estrangulado pela censura e pelo golpe financeiro. O Ponto de Vista segue sob censura, há mais de dois anos e meio. Os processos seguem tramitando.
Em nenhum momento, desde o início de 2009, o Grupo RBS divulgou o caso ou se preocupou em dissuadir seu funcionário de praticar censura contra um veículo de mídia – o blog Ponto de Vista. Ainda que saiba muito bem que “a Constituição, em seus artigos 5º e 220, veda a censura prévia e confirma que é livre a manifestação do pensamento”, a RBS não “adotou as medidas cabíveis em nome de um valor constitucional – a liberdade de expressão”. E as medidas cabíveis, nesse caso, eram – são – muito mais acessíveis ao Grupo. Só dependem da própria RBS.
A cara de pau é hoje uma das práticas jornalísticas mais comuns nas empresas de comunicação.
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