Tenho a nítida impressão que as pessoas com mais de 40 anos acham os jovens o principal problema do mundo. Talvez todos nós achemos o mais jovem sempre um problema. Achamos aquela nova banda sempre pior que aquela velha banda, achamos aquela nova tribo sempre mais idiota que a outra tribo, que faziamos parte quando tinhamos 15 anos. Pois não se faz mais filmes como antigamente, não se é mais romântico como antigamente, não faz mais políticos, política ou se discute política como antigamente.
Existe uma glamurização cega do "antigamente". Há coisas boas ontem e hoje, assim como coisas ruins, também ontem e também hoje.
Ouvi numa mesa-redonda da rádio Guaíba comentarem sobre a transmissão que alguns jogadores do Santos fizeram na twittcam no Domingo, após vitória sobre o Grêmio Prudente. Os jovens jogadores entraram em conflito com alguns torcedores, numa dessas o goleiro Felipe se dirigiu de forma infeliz a internauta que o chamou de mão-de-alface: "Aí fera, o que eu gasto com o meu cachorro de ração é o teu salário por mês."
O jogadores ainda falaram alguns palavrões e também trocaram pequenas rusgas com o Robinho. No programa da Guaíba, hoje ao meio-dia, um dos debatedores, o reporter Hernani Campelo afirmou serem "esses garotos irresponsáveis o retrato da juventude atual".
Aliado a isso, vejo notícias que dão conta que em algumas cidades do interior de São Paulo, como Fernandópolis, há toque de recolher para menores de idade. Dependo da cidade, a norma vaia um pouco, mas em suma, depois das 23h menores de 18 anos não podem andar desacompanhados. As prefeituras alegam tentativa de diminuir a violência.
Parece que a culpa da violência urbana é do adolescente. E me parece óbvio um aspecto: qual infrator, seja menor de idade ou não, vai respeitar toque de recolher e ficar em casa vendo novela? O fora-da-lei sai de casa de qualquer jeito.
Experimentem ler, especialmente ler, o jornalista reacionário (e humorista por tabela) Luiz Carlos Prates. Seguidamente condena os "bermudões cheios de bolsos". É uma implicância impressionante. Olha esse post, publicado hoje no blog de Prates, com o título de Safados:
"Agora é assim, ninguém pode reagir diante dos blefes de “crianças” e adolescentes. Vale tudo, podem fazer tudo, têm todas as proteções. Negativo, safados são safados, tenham a idade que tiverem, têm que ser “corrigidos”, à moda antiga, sem dó nem pedagogias do amor. E estamos conversados, safados!"
Tem ainda os que defendem baixar a maioridade penal. Que é um tema polêmico e complexo, e não vou entrar no mérito da questão agora. O fato é que me incomoda muito a maneira como se condena o jovem apenas por ele ser jovem e agir como tal. Esquecem que uma geração é filha da outra e que aprendemos tudo através de exemplos vindos dos nossos pais. Esquecem, e isso é o pior, que também já foram jovens e que em qualquer tempo, o jovem tem, teve e terá o mesmo tipo de comportamento.
[Conhece a Turma jovem do Estado de Alagoas? Reativaram essa semana o movimento "Fora Collor". Leia a matéria do Sul 21 aqui.]
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