quinta-feira, 9 de outubro de 2014

De bengala e skate no asilo

Texto: Filipe Rossau e Luiz Paulo Teló 
Foto e Vídeo: Jackeline Moraes e Rafaela Amaral
Publicado em Digitais Unisinos, dia 6 de outubro 

O último dia 27 quebrou a rotina dos moradores do Asilo Padre Cacique, que fica no bairro Menino Deus, zona centro-sul de Porto Alegre. A segunda edição do Skate no Asilo animou a tarde nublada dos idosos da casa, que acompanharam a disputa entre 13 skatistas em uma pista montada em frente a rampa de entrada. Para Adilis Dias da Silva, de 72 anos, o evento muda o humor do asilo, já que, segundo ela, “durante a semana, é muito calmo, o clima é morno, mas quando tem esses eventos, tudo muda, porque sempre vem bastante gente visitar”. O curioso é que ela, que não revela o tempo exato, mas conta que mora há quase oito anos no asilo, não apenas assistiu a competição, mas também foi uma das quatro juradas do torneio. Quando perguntada se entendia do esporte, ela riu e disse: “Só não pode cair do skate”.

O evento foi produzido pela Smile Flame, coletivo responsável por diversas ações que misturam solidariedade e interação social. “Para os idosos, ver um campeonato de Skate é algo totalmente diferente, e traz muita gente jovem”, destaca Gabriel Baron, um dos responsáveis pelo coletivo. Baron acredida que 30% das pessoas que confirmaram presença via facebook circularam pelo asilo naquela tarde, algo próximo de 500 pessoas. “Você conversa e eles lembram do ano passado e perguntam quando vai ser o próximo. É muito legal”, conclui.

Padre Cacique sobre rodas:



O Asilo Padre Cacique é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 1898. Abriga atualmente 150 idosos entre homens e mulheres, sendo que em torno de 40% não têm nenhum vínculo familiar e, por essa razão, dependem de uma relação afetiva com os funcionários e com os voluntários da Instituição. “Nos emociona ver pessoas jovens, que poderiam estar em outras áreas de lazer e vieram nos procurar para se divertir”, afirma Alécio Borsói, diretor de eventos do lugar, voluntário da casa há quase 20 anos.

Nota 10

João Lucas andou muito. Aos 13 anos, venceu na final seus dois amigos Bruno Felipe, de 15, e Eduardo, também de 13 anos. Na volta classificatória, ele teve um minuto para fazer suas manobras para que os quatro simpáticos velhinhos que formavam o corpo de jurados dessem suas notas. Quatro plaquinhas iguais: 10.

Na volta consagratória, os três finalistas tiveram dois minutos cada. João Lucas novamente chamou atenção e arrancou palmas da plateia. Dos seus pés, que calçavam um tênis azul e outro vermelho, saíram as manobras do menino que anda de skate desde os 6 anos de idade. Ele é de Cachoeirinha, mas conta que está acostumado a andar de skate na pista do IAPI, na Zona Norte de Porto Alegre.

João Lucas sorrindo após receber as notas dos juízes. FOTO: Jackeline Moraes

Quando Seu Paulino, Adilis, Seu José e Dona Osvadina mostraram as notas para a volta de João Lucas, ficou fácil saber o vencedor da Bengala de Ouro. Ficou fácil fazer a conta, pois nenhum outro competidor ganhou um quarteto de 10.

Para ele, o evento foi um sucesso. “Esse ano foi muito melhor, foi aqui na frente. Tudo ajudou, inclusive veio mais gente, estava mais animado, com muita guria bonita”, atesta o jurado que, pela segunda vez atuou como tal. Paulino, como desportista que fora na juventude, jogador de volei, basquete e futebol nas equipes do exército, achou justa a vitória de João Lucas.

O astro

Sentado na ponta da mesa, cabelo grisalho e ainda numeroso, penteado para a esquerda. Suéter rosa - mas discreto -, sorriso no rosto e corpo balançando enquanto a DJ Juli Baldi tocava músicas dos anos 50 e 60. Seu Paulino, de 88 anos, parece um jurado saído dos programas televisivos de calouro. Ele opina, levanta, dança, faz pose pra fotos. Sua vitalidade chamou a atenção dos presentes.

Natural de Erechim, mas registrado em Galópolis, Paulino está há três anos e meio no Padre Cacique. Sobre sua animação com o evento, lembrou que na casa é conhecido como “pé-de-valsa”. Ex-representante comercial, ex-comissário da antiga empresa aéria Varig, ele veio para Porto Alegre em 1952.

Com seu sotaque italiano carregado, o simpático vovô não poupa modéstia. “Tenho largo conhecimento em política, futebol, matemáica e biologia. Saio pra passear a hora que eu quero, pois tenho um atestado de lucidez”, afirma. Seu Paulino não dava, contudo, sinais de estar cansado, mesmo após a tarde que teve como um verdadeiro astro.

Galeria de Fotos:

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