sábado, 22 de junho de 2013

O sarcasmo musical de Clarice Falcão em Porto Alegre

O bis foi combinado antes da “última” música ser executada – evidente. Com seu humor sarcástico e incrivelmente sutil e delicado, Clarice explicou à platéia que lotava o Teatro do Bourbon Country na noite de 16 de junho, em Porto Alegre, que ela e a banda desceriam ao camarim e, ao ouvirem as palmas e os gritos do fãs, voltariam para o palco. “Então, de ‘improviso’, tocamos mais duas ou três. Pensei nisso agora, vamos ver se funciona”, brincou.

Com a fala mansa de uma pernambucana de 23 anos e sotaque carioca, Clarice Falcão começou o show com irrisórios 10 minutos de atraso. A cantora, compositora, atriz, roteirista e humorista mal se movimentou no palco. Não deu mais de um passo para qualquer lado. Pouco para quem carrega tantas funções no currículo. Contudo, isso não significa que o show seja uma experiência monótona. O texto é tudo. Afinal, o seu indie folk, com um pé na MPB dos anos 60/70 e outro na música popular mais recente (Arnaldo Antunes, Marcelo Geneci, Tulipa Ruiz), embala letras de amor com tempero sarcástico. Um agridoce difícil de não gostar.
Clarice esteve em Porto Alegre na turnê de lançamento do seu primeiro disco, Monomania. No trabalho, gravado de forma independente, a cantora transfere para o mundo real todo o sucesso conquistado nos últimos dois anos na internet. Filha dos roteiristas João e Adriana Falcão, ela começou a lançar vídeos no youtube apresentando suas composições em voz e violão. Atualmente soma mais de 15 milhões de acesso. Para potencializar ainda mais seu sucesso virtual, Clarice faz parte do canal de humor Porta dos Fundos, que grava esquetes cômicas de forma independente e lança na internet. O canal é um os maiores fenômenos de acesso no youtube.

O show é uma experiência agradável. O público, adolescentes em sua maioria, cantou todas as canções do início ao fim – o que tem se repetido nas apresentações pelo Brasil. Desde a mais consagrada e mórbida 8º Andar (“Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do 8º andar”) até a mais romântica De todos os loucos do mundo (“De todos os loucos do mundo eu quis você/ Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha/ De todos os loucos do mundo eu quis você/ Porque a sua loucura parece um pouco com a minha”).

Pouca luz, banda acústica e requintada, movimentos calculados e tímidos. A construção impecável, como uma peça ensaiada exaustivamente, com início, meio e fim. Por ora, Clarice Falcão é a grande boa nova da música brasileira. Um talento a ser observado e consumido em qualquer campo em que esta menina se meta a atuar. O público de Porto Alegre, e seu público de forma geral, merecem mais (até porque ela pode mais) que apenas uma hora de show.

Nenhum comentário:

Postar um comentário