segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Filme de Segunda 84

Cara ou Coroa
Há temáticas se sempre vão servir de argumento para inúmeras manifestações artísticas. A ditadura militar no Brasil é um exemplo. Os anos de chumbo da nossa história é uma fonte inesgotável para o cinema nacional. Foi dessa vertente que o cineasta Ugo Giorgetti bebeu para escrever e dirigir o seu novo filme.

Entretanto, Cara ou Coroa não trás cenas de violência e tortura, cenas de conflitos entre universitários e milicos, e talvez por isso fique aquela sensação de que alguma coisa faltou ao longa de Giogetti. Pois é justamente essa a intenção do diretor. Ele busca contar a história de um grupo de pessoas que geralmente não são lembradas pela sétima arte: aqueles que sabiam da gravidade da situação, não eram alienados, só que tinham seus problemas pessoais, não eram envolvidos com organizações de esquerda, mas queriam, de alguma forma, lutar contra aquilo. São, basicamente, anônimos.

A trama está centralizada na história de dois irmãos. O diretor de teatro João Pedro (o ótimo Emilio de Mello), e o mais novo, estudante,  Getúlio (Geraldo Rodrigues). João está dirigindo uma peça financiada pelo partido comunista, mas enfrenta alguns problemas com a direção do partido. Getúlio namora a bonitinha Lilian (Juliana Ianina), e também enfrenta problemas, só que com o avô da moça, um general aposentado do exercito (Walmor Chagas).

Na ânsia de mostrar pessoas comuns, Ugo Giorgetti alivia a barra da ditadura brasileira. Há, no filme, três momentos que deixam para o espectador menos avisado a impressão que o Brasil viveu 20 anos de uma ditabranda (como gosta de dizer o jornal Folha de São Paulo). Primeiro quando João Pedro e Getúlio se encontram com uma crítica de cinema recém libertada pelos militares. Ela diz que só levou tapinha na bunda, não foi torturada, e que ainda quiseram pagar o taxi pra ela voltar pra casa. "Muita gente que só levou tapinha na bunda vai querer se comprara a quem foi torturado", disse.

Outro momento é quando o avô de Lilian recebe, escondido, a visita de um general, que se diz preocupado com os rumos do poder militar. O general aposentado se diz decepcionado, queria poder ajudar e ainda é chamado de soldado absoluto, tido como exemplo. Mais tarde, o terceiro momento é uma conversa de João Pedro com o diretor do partido comunista. João indaga se todo aquela luta da juventude vale a pena, se não estão se envolvendo em demasia, quando são apenas jovens que precisam vive suas vidas.

Cara ou Coroa teve um orçamento de 4 milhões de reais, e por isso tem alguns problemas técnicos. Há cenas muito escuras, em que pouco se enxerga. Atrapalha o andamento do filme. A trilha sonora também não ajuda, pois são usadas poucas músicas da época, no restante é feito um trabalho instrumental como se fosse para um filme de suspense.

No decorrer da trama de Cara ou Coroa há uma certa confusão sobre o que realmente o filme quer ser. Pois ele começa com um narrador nostálgico, que some do filme e só vai aparecer novamente no encerramento. O personagem de Otávio Augusto, tio de João e Getúlio, talvez seja a melhor coisa do filme em termos de construção e interpretação, e é pouquíssimo aproveitado. Também aparece no início e depois some.

Contudo, tendo todos esses problemas, muitos pelo baixo orçamento, outros por opção do diretor, o que se destaca em Cara ou Coroa é a boa recriação de uma São Paulo de 1971 em pleno inverno. Este, sem dúvida, é um ponto alto do filme, que não empolga em muitos aspectos. Não consegue fazer o espectador comprar aquela história e ainda passa a impressão de aliviar a barra da ditadura militar.

Gênero: drama
Duração: 110 min.
Origem: Brasil
Direção: Ugo Giogetti
Roteiro: Ugo Giorgetti
Distribuidora: Vinny Filmes
Censura: 12 anos
Ano: 2012  


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