quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ocupação do espaço público é a melhor alternativa para a Redenção

Já se discute há algum tempo em Porto Alegre a falta de segurança à noite nos parques da capital, principalmente o Parque Farroupilha. Tenho a impressão que a ideia absurda de cercar a Redenção esteja mais em baixa do que nunca. O que está sendo amplamente analisado na Secretaria Nacional de Segurança, é a aquisição de 27 novas câmeras para serem instaladas na Redenção e no Parque Marinha. Os equipamentos farão uma cobertura quase que completa dos parques.

Mesmo que outros parques estejam dentro da discussão, a Redenção acaba centralizando a polêmica. Na interessante reportagem do jornal Sul21, nesta última quarta, dia 4, os movimentos sociais entraram forte na discussão e se colocam completamente contra a instalações de câmeras. O debate é muito pertinente, e tem fundamento.

Há um aspecto fundamental que, acho, pode ser um ponto de partida para a polêmica. A sensação de insegurança é sempre maior que a real falta de segurança. Afinal, as estatísticas que dão conta da violência na noite da Redenção apontam porcentagens proporcionalmente maiores do que qualquer outro ponto da cidade? Certamente não ao ponto de justificar um sistema de câmeras que monitore de forma invasiva qualquer movimento do frequentador comum do parque. E tenho certeza que a porcentagem de frequentadores comuns é infinitamente maior que a dos infratores.

Ao permitir que as vias públicas se tornem um grande reality show, estamos autorizando o Estado a nos vigiar em nome da nossa (suposta) segurança. É isso que queremos? Como se bancos e joalherias, por exemplo, não sofressem com nenhum tipo de crime, mesmo amparados por valiosos sistemas vigiados de segurança.

Há sim uma discrepância em algum dos argumentos dos representantes dos movimentos sociais na reportagem do Sul21. A alegação que as câmeras irão invadir a privacidade de quem vai para o parque, à noite, fazer sexo em locais escusos da Redenção, é descabida. Um local de circulação pública não pode virar lugar frequente de relações sexuais. Porém, ao mesmo tempo que não é aceitável que a Redenção se torne uma espécie de motel ao ar livre, não é de bom grado que se iniba o flerte, o namoro, a busca pelo sexo. Faz parte da vida noturna de qualquer grande cidade.

O que a Redenção precisa é da ocupação do espaço público pela sociedade civil. Coisa que aconteceu recentemente por duas vezes, que se chamou de Serenata Redenção Iluminada. Uma iniciativa que começou sendo fomentada nas redes sociais e se transformou em um evento cultural muito bonito. A questão principal é o habito. E o habito é cultural, e vem com o tempo.

Se, aos poucos, as pessoas cultivarem o hábito de frequentar a Redenção no turno da noite, atividades culturais e comerciais tomarão conta do espaço, coibindo de forma natural o que se classifica como crime.

De resto, é muito mais prudente e menos abusivo uma polícia que faça rondas periódicas e seja ágil a qualquer chamada emergencial, do que um sistema de câmeras que monitore passo a passo a vida do cidadão.
Ramiro Furquim/Jornal Sul21

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