segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Filme de Segunda 140

Ela


O ser humano relaciona-se. Em qualquer época, em qualquer lugar, com quem for, da forma que for. É algo inerente ao homem como espécie, determinante para sua evolução tal qual como se deu. E dentro da gama infinita de tipos de relação que um ser humano por ter com o(s) outro(s), há aquilo que por convenção se chama de amor (romântico/erótico). Esse é, sem dúvida nenhuma, o tema mais rico e inspirador para autores de todas as épocas. Spike Jonze e o tocante Ela que o diga.

O filme em que o personagem de Joaquin Phoenix (Theodore) se apaixona pela voz (Scarlett Johansson) de um novo sistema operacional com inteligência artificial, é uma joia muito bem lapidada pelo cineasta estadunidense. Adjetivos também não faltam para classificar o longa de cinco indicações ao Oscar 2014. Ela é um romance dramático, com uma pegada indie e estética retrô-futurista, muito bem embasada por uma fotografia delicada e correta, dentro de um universo que não parece muito distante em termos de avanços tecnológicos.


Jonze filma em uma Los Angeles em que não se sabe ao certo o ano, mesmo se tendo a nítida impressão de estar algumas décadas na frente de 2013 - ano em que foi rodado. Contudo, chama atenção o figurino setentista, sempre dando destaque ao vermelho. Nesse universo que nos é apresentado, as pessoas vivem distantes umas das outras, compenetradas em seus fones, ouvindo músicas, notícias e a leitura de seus e-mails, tudo acionado por comando de voz. De cara, nos deparamos com um personagem em depressão, saindo de um processo de divórcio que o derrubou emocionalmente. É Theodore, um escritor habilidoso que trabalha em uma agência que escreve cartas manuscritas encomendadas.

Ela, além de ser um filme tocante por si só, levanta questionamentos sobre o estado emocional da sociedade moderna, de como se dão os relacionamentos e que tipo de relacionamento é, de fato, real. O personagem de Phoenix adquire um sistema operacional para suas máquinas que é revolucionário. Munido de inteligência artificial, o SO cria uma personalidade com capacidade evolutiva, capaz de absorver experiências e conversar com seu "dono" naturalmente, como se fosse um amigo ou caso amoroso. Samantha é a identidade do SO de Theodore, vivida pela voz rouca e sedutora de Scarlett Johansson. Praticamente um golpe baixo, quase impossível de não se apaixonar.

Com o passar do tempo, dentro do filme, percebe-se que as pessoas simplesmente só interagem com seus SOs. O que, claro, traz à luz de forma mais contundente o que Spike Jonze quer dizer e questionar. O que há de real e não-artificial no relacionamento com algo que não se vê, não se toca, não se tem certeza quanto a veracidade dos sentimentos. O que há de real? É possível que dentro de alguns anos possamos interagir com equipamentos de inteligência artificial, capazes de processar e agir conforme a infinidade de situações diferentes que criamos e a que estamos expostos?

Spike Jonze pode não ter feito o melhor filme entre os indicados aos melhores do ano no Oscar de 2014. Mas é possivelmente aquele trabalho mais pertinente à nossa época. O que constrange e assusta pela proximidade de um futuro melancólico, de relações cada vez menos humanas. Com tudo isso, ainda sim, Jonze faz um lindo trabalho, que tem em suas virtudes também a capacidade de emocionar e mais um vez, como milhares de vezes no cinema, falar de amor.

Gênero: Drama, Romance
Duração: 126 min.
Origem: EUA
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Distribuidora: Sony Pictures
Censura: 14 anos
Ano: 2013


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