domingo, 27 de setembro de 2009

Gana por violência

O problema da violência no Brasil é crônico. Podemos atribuir isso a vários fatores, como a desigualdade social e o descaso do poder público com a educação. O medo está inserido no dia-a-dia das pessoas de uma forma tal que muitas vezes nem percebemos. A questão do medo e violência é um problema democrático, desde o favelado que vive, por exemplo, a expectativa diária de uma troca de tiros entre chefes do tráfico, ao morador de um bairro de classe alta trancafiado na sua casa de muros altos, cerca elétrica, etc.


Me impressiona, ao mesmo tempo que me preocupa, a vontade das pessoa em consumir toda essa violência. Esse nicho de programas televisivos ao estilo Gil Gomes tomou conta da programação ao findar da tarde. Os apresentadores são tratados como donos da verdades. "Mostra a cara do vagabundo. Esse tem de ir pra cadeia, apanhar como cachorro", declarações daí pra baixo. Isso incita a violência, cada vez mais impregnada no cotidiano.


Fico desperançoso com a vontade de vingança que toma conta de todos. É até compreensivo, mas não é racional, é emocional. A história da civilização é suja, a construção da sociedade que hoje vivemos é repleta de guerras, traições, tomada por violência gratuita. Uma coisa, pelo menos pra mim, fica muito clara: punir de forma agressiva e tratar de forma indigna aquele que errou, não é e nunca foi solução. 


A lei do "bateu, levou" não pode ser vista como luz no fim do túnel, tal como é pregada e, pior, adotada pelas pessoas e defendida com ardor. De forma alguma o Estado, na figura de autoridade, deve cometer o mesmo crime para com o criminoso, pois, automaticamente, criam-se dois criminosos, aquele que penaliza e o penalizado, havendo apenas uma diferença hierárquica entre ambos.  


Dei todo esse discurso apenas para comentar um caso simples, ocorrido em Viamão, próximo a Porto Alegre. O caso do menino de 14 anos que pichou as paredes recém pintadas da escola e, como punição dada pela vice-diretora, teve de limpar e pintar as paredes novamente. O rolo se deu no momento que a vice-diretora chama o menino de bobo da corte na frente dos colegas, que filmavam a punição. O rapaz sentiu-se humilhado, não quis mais ir à escola, os pais já pensam em entrar com processo, e a imprensa teve assunto pra semana toda.


Acredito que a repercussão do caso foi demasiadamente exagerada, contudo detecto atitudes erradas de ambas as partes. Porém, pouquíssimas pessoas que ouvi se manifestarem sobre o fato detectaram falha dos dois lados. A maioria defende a moralização do "marginalzinho" - como bradam - com o advento da chacota.


Entro em discussões ferrenhas, sempre defendendo punições que funcionem, leis que sejam cumpridas e de interpretações claras. Também defendo o direito do indivíduo como ser humano, e aí que não me entendem. Passo por defensor de marginal que, aliás, já vive à margem da sociedade por um problema que não lhe competi a culpa, enquanto eles tem o Datena como ídolo.

Um comentário:

  1. ah amor, tirando a frase lamentável da professora, acho correta a atitude, haviam feito um mutirão para pintar a escola no final de semana, e no dia seguinte ele pixa, acho correto punir, mas não humilhar.

    O que mais me preocupa são as pessoas que enquanto a justiça, permanece impune perante alguns casos, inocentes vão morrendo pelas mãos de monstros que não conhecem limites nem punições...

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